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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ás de Ouros - Capítulo 2 [2:2]

Carlos e Edson entraram na cozinha. A cozinha era bem espaçosa, aberta e com muitos armários, balcões, panelas e eletrodomésticos ocupando todo o espaço nas paredes. Não havia mesa nem cadeiras.

Dois policiais estavam conversando em um canto e praticamente ignoraram a entrada dos investigadores.

Havia um corpo coberto no centro da cozinha. Edson se abaixou, puxou o pano que cobria o corpo e se levantou.

– Essa aí é a esposa – Edson apontava para o corpo no chão. ­– Solange Gusmão. Morreu do mesmo jeito que o segurança. Estrangulada.

O corpo de Solange estava próximo a pia. Carlos se abaixou para observar de perto. Colocou um par de luvas descartáveis que havia tirado do bolso e examinou a cabeça de Solange.

– Ela pelo menos parece que lutou mais bravamente pela sua vida – comentou Carlos. – E o assassino tomou o cuidado de deitá-la no chão. Não há sinais de pancada na cabeça devido a queda.

Edson foi até uma estante que continha uma pilha de livros de receitas. Pegou o primeiro e mostrou a Carlos.

O livro, intitulado Os Ricos Também Cozinham, tinha uma foto de Solange na capa segurando uma assadeira contendo cédulas de cem reais. Carlos julgou a capa como sendo um pouco arrogante. Edson folheou o livro.

– Uma cozinheira renomada morrendo na cozinha da própria casa. Que irônico, não? – disse Edson colocando o livro de volta no lugar. ­– Até ela deve ter rido disso enquanto morria.

Solange realmente parecia estar sorrindo, mas Carlos sabia que essa aparência era normal em vítimas de estrangulamento.

– Ok, agora vamos para o principal – disse Edson e foi andando para o corredor. – Você não vai acreditar no que vai ver.

Edson foi andando para a sala e Carlos se apressou para segui-lo. Enquanto andava pelo corredor que levava a sala, Edson ia comentando impressionado sobre cada item luxuoso ou obra de arte rara da casa, sempre enfatizando o quão Otávio e Solange Gusmão eram ricos. Carlos não estava prestando muita atenção ao que Edson falava e olhava para onde ele apontava apenas para confirmar com a cabeça e dar respostas curtas como “impressionante” e “ahã”, mas um quadro com uma mão saindo de uma nuvem e segurando um brilhante pentagrama prendeu a atenção de Carlos por alguns instantes.

Carlos parou e encarou o quadro por um tempo. Edson já estava mais a frente.

– Ei, Carlos, é por aqui! – chamava Edson.

E quando Carlos tinha dado um passo na direção de Edson, ele ouviu uma conhecida voz feminina atrás dele.

– Por que esses crimes nunca acontecem no nosso horário de trabalho?

Silvia era a principal perita criminal do Departamento de Homicídios. Com seus 35 anos, ela era uma das mais experientes peritas e já havia resolvido diversos crimes com a sua habilidade de perceber detalhes mínimos em cenas de crimes e que acabavam se tornando vitais na solução dos casos.

A perita tinha um andar arrastado e uma cara fechada. Era gordinha, usava roupas folgadas e não enxergava um palmo a sua frente sem os seus óculos. Silvia sempre estava com a máquina fotográfica em mãos, que ela mesma dizia que era o seu terceiro olho e tinha sempre um chiclete na boca.

– Desse jeito vocês acabam com o meu sono de beleza! – exclamava Silvia, cheia de trejeitos, ao passar por Carlos.

Carlos a seguiu. Edson ainda estava parado na sala.

– Sono de beleza? Você está precisando dormir mais – brincou Edson.

Silvia ignorou o comentário e apenas ficou mascando o seu chiclete e encarando Edson.

– Vamos, me mostrem logo a espetacular cena de crime que fez com que me acordassem para vir aqui.

Silvia sempre parecia estar com pressa.

– É logo ali – disse Edson apontando na direção do escritório.

Silvia passou por entre dois investigadores e foi na frente.

– Meu Deus, ela dorme mascando chiclete! – comentou Edson, quando Silvia já estava a três passos de vantagem.

Carlos respondeu apenas com um sorriso forçado.

– Santa mãe da cabeça raspada, isso é fenomenal! – exclamou Silvia ao entrar no escritório, em um de suas costumeiras expressões que ninguém entendia.

Carlos fez cara de espanto. Edson olhou para ele com um ar de satisfação.

– Viu que eu disse?

E então Carlos entrou no escritório, e ao entrar ele só teve uma reação:

– Que merda é essa?