Carlos e Edson entraram na cozinha. A cozinha era bem espaçosa, aberta e com muitos armários, balcões, panelas e eletrodomésticos ocupando todo o espaço nas paredes. Não havia mesa nem cadeiras.
Dois policiais estavam conversando em um canto e praticamente ignoraram a entrada dos investigadores.
Havia um corpo coberto no centro da cozinha. Edson se abaixou, puxou o pano que cobria o corpo e se levantou.
– Essa aí é a esposa – Edson apontava para o corpo no chão. – Solange Gusmão. Morreu do mesmo jeito que o segurança. Estrangulada.
O corpo de Solange estava próximo a pia. Carlos se abaixou para observar de perto. Colocou um par de luvas descartáveis que havia tirado do bolso e examinou a cabeça de Solange.
– Ela pelo menos parece que lutou mais bravamente pela sua vida – comentou Carlos. – E o assassino tomou o cuidado de deitá-la no chão. Não há sinais de pancada na cabeça devido a queda.
Edson foi até uma estante que continha uma pilha de livros de receitas. Pegou o primeiro e mostrou a Carlos.
O livro, intitulado Os Ricos Também Cozinham, tinha uma foto de Solange na capa segurando uma assadeira contendo cédulas de cem reais. Carlos julgou a capa como sendo um pouco arrogante. Edson folheou o livro.
– Uma cozinheira renomada morrendo na cozinha da própria casa. Que irônico, não? – disse Edson colocando o livro de volta no lugar. – Até ela deve ter rido disso enquanto morria.
Solange realmente parecia estar sorrindo, mas Carlos sabia que essa aparência era normal em vítimas de estrangulamento.
– Ok, agora vamos para o principal – disse Edson e foi andando para o corredor. – Você não vai acreditar no que vai ver.
Edson foi andando para a sala e Carlos se apressou para segui-lo. Enquanto andava pelo corredor que levava a sala, Edson ia comentando impressionado sobre cada item luxuoso ou obra de arte rara da casa, sempre enfatizando o quão Otávio e Solange Gusmão eram ricos. Carlos não estava prestando muita atenção ao que Edson falava e olhava para onde ele apontava apenas para confirmar com a cabeça e dar respostas curtas como “impressionante” e “ahã”, mas um quadro com uma mão saindo de uma nuvem e segurando um brilhante pentagrama prendeu a atenção de Carlos por alguns instantes.
Carlos parou e encarou o quadro por um tempo. Edson já estava mais a frente.
– Ei, Carlos, é por aqui! – chamava Edson.
E quando Carlos tinha dado um passo na direção de Edson, ele ouviu uma conhecida voz feminina atrás dele.
– Por que esses crimes nunca acontecem no nosso horário de trabalho?
Silvia era a principal perita criminal do Departamento de Homicídios. Com seus 35 anos, ela era uma das mais experientes peritas e já havia resolvido diversos crimes com a sua habilidade de perceber detalhes mínimos em cenas de crimes e que acabavam se tornando vitais na solução dos casos.
A perita tinha um andar arrastado e uma cara fechada. Era gordinha, usava roupas folgadas e não enxergava um palmo a sua frente sem os seus óculos. Silvia sempre estava com a máquina fotográfica em mãos, que ela mesma dizia que era o seu terceiro olho e tinha sempre um chiclete na boca.
– Desse jeito vocês acabam com o meu sono de beleza! – exclamava Silvia, cheia de trejeitos, ao passar por Carlos.
Carlos a seguiu. Edson ainda estava parado na sala.
– Sono de beleza? Você está precisando dormir mais – brincou Edson.
Silvia ignorou o comentário e apenas ficou mascando o seu chiclete e encarando Edson.
– Vamos, me mostrem logo a espetacular cena de crime que fez com que me acordassem para vir aqui.
Silvia sempre parecia estar com pressa.
– É logo ali – disse Edson apontando na direção do escritório.
Silvia passou por entre dois investigadores e foi na frente.
– Meu Deus, ela dorme mascando chiclete! – comentou Edson, quando Silvia já estava a três passos de vantagem.
Carlos respondeu apenas com um sorriso forçado.
– Santa mãe da cabeça raspada, isso é fenomenal! – exclamou Silvia ao entrar no escritório, em um de suas costumeiras expressões que ninguém entendia.
Carlos fez cara de espanto. Edson olhou para ele com um ar de satisfação.
– Viu que eu disse?
E então Carlos entrou no escritório, e ao entrar ele só teve uma reação:
– Que merda é essa?
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