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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ás de Ouros - Capítulo 2 [2:1]

Pouco tempo depois de receber a ligação, Carlos se encontrava na entrada do Condomínio Residencial Royal. Provavelmente o segurança já estava habituado com o número de pessoas que estavam entrando e saindo ali hoje, pois ele levantou a cancela sem ao menos olhar para o distintivo de investigador que Carlos erguia na mão.

Carlos entrou no condomínio e enquanto dirigia, notou que muitas das residências estavam com suas luzes internas acessas.

Até os ricos são curiosos.

A área interna do condomínio era bem grande e Carlos dirigiu por quase um minuto até avistar uma residência com uma ambulância e carros da polícia parados na frente.

Alguns moradores estavam no local, trajando roupões e com cara de horrorizados. Mesmo com o ruído que havia no local, era possível escutar latidos de cachorros vindos do fundo da mansão. E encostou o carro e observou aquelas pessoas por alguns instantes.

Ele se aproximou da portaria da residência, exibindo o seu distintivo a alguns policiais. Ao passar pelo cordão de isolamento, avistou Edson, um investigador criminal de 39 anos e de aparência simpática.

– Por que esses homicídios nunca ocorrem no horário do expediente? ­– brincou Edson ao perceber Carlos parando ao seu lado.

Carlos apenas deu uma risada discreta.

– O que temos aqui?

– Ah, o de sempre. Assassino invade mansão de um banqueiro, mata o milionário, sua mulher, o segurança da casa e foge sem levar nada – respondeu Edson em tom ironia.

– Aparentemente, sem levar nada – completou outro investigador que vinha se aproximando.

Luís Fernando tinha 33 anos e era o investigador mais novo da delegacia de homicídios que Carlos trabalhava. Tinha um jeito meio arrogante e costumava terminar a frase dos demais investigadores fazendo uma observação, quase sempre irrelevante.

– Nós demos uma checada na casa e parece que está tudo no lugar. A nossa primeira hipótese foi a de um crime encomendado, mas você precisa ver como as coisas estão lá dentro da mansão. Estão bem... – Luís Fernando procurou a melhor palavra para usar – interessantes.

– E alguém viu o assassino entrar ou sair? ­– perguntou Carlos, olhando para a guarita.

– Até agora nenhum morador disse ter visto nada – respondeu Edson. – E eu acredito neles. Aqui vive cada um cercado em seu mundinho de quatro paredes e estão sempre ocupados de mais para notar que um vizinho foi assassinado.

– Então quem chamou a polícia?

– O segurança da mansão ao lado. Ele notou que os cachorros estavam latindo muito, então ele veio checar se estava tudo bem. Ele viu que os cachorros estavam arranhando a porta da guarita, como se quisessem entrar, e foi aí que ele encontrou o defunto.

Carlos olhou rapidamente para o segurança, que estava conversando com um casal, provavelmente os seus chefes.

– Silvia ainda não chegou? – perguntou Luís Fernando, tirando um maço de cigarros do bolso.

– Ainda não – respondeu Edson e logo acrescentou. ­– Deve estar em algum bar gay por aí.

Luís Fernando tirou um cigarro do bolso e foi para um canto isolado. Carlos e Edson entraram na guarita.

Carlos fez cara nojo ao ver o corpo do segurança morto caído no chão e com um pedaço generoso de sanduíche de bacon na boca.

– Se não fosse pela marca no pescoço, eu acreditaria que esse cara morreu engasgado com o sanduíche – disse Edson, puxando a gola da camisa do segurança para exibir as linhas vermelhas no pescoço que indicavam enforcamento. – Seria impossível ocorrer uma briga aqui dentro. Pouco espaço. É possível que ele tenha sido assassinado pelas janelas ou do lado de fora e depois o assassino colocou o corpo aqui dentro. Provavelmente, para não chamar a atenção dos cachorros. O problema foi que ele deixou o sanduíche cair bem aí na entrada, ao lado de seu pé esquerdo. E com tanto bacon nesse sanduíche, qual cachorro não estaria derrubando portas?

Carlos deu um passo para o lado quando percebeu que havia pisado num bacon no chão.

­– E as câmeras de vigilância?

– Desligadas. Parece que o assassino sabia o que estava fazendo. É claro que o assassino estava usando luvas, mas vamos recolher digitar apenas por desencargo de consciência – disse Edson se levantando. – E também porque em um caso desses nós temos que dar satisfações a imprensa também, você sabe como é.

Carlos e Edson saíram da guarita e foram andando em direção a mansão. Os cachorros não paravam de latir.

– Não sei como esse cara conseguiu driblar os cachorros – comentou Edson.

– Esses cachorros se vendem por qualquer pedaço de carne.

Ao se aproximar da casa, Edson começou a andar pela grama indo em direção ao fundo da casa.

– Primeiro vamos para a cozinha. Vou deixar o melhor para o final – Edson deu uma piscadela de olho sádica.

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