Após ouvirem a voz de Marcos que vinha da porta, todos os alunos se viraram em direção a ele. Pareciam assustados ao ver aquele enorme rapaz de quase dezessete anos, forte e bonito entrar na sala de aula.
- Entre, meu rapaz - disse o professor Robson, um pouco preocupado com a administração do tempo de aula -. Já estamos na metade da aula. Se não conseguir entender algo, pode me perguntar no final.
- Obrigado, professor. - respondeu Marcos, esbanjando cortesia.
- Pensando melhor - interrompeu Robson -, você gostaria de me ajudar? Como você já está de pé, poderia vir e tentar separar estas duas barras - Robson mostra as barras presas às baterias de celular -. Preciso que a turma perceba o quão isto aqui está preso.
Marcos foi caminhando até a mesa na frente da sala e segurou as barras de ferro. Olhando fixamente para o professor, ele levantou as duas barras e as separou, sem nenhum esforço. Ainda olhando para Robson, que estava com uma cara de espanto indescritível, Marcos colocou as barras novamente em cima da mesa, espaçadas por mais de dois palmos, e deu meia volta, indo se sentar no seu lugar. Enquanto procurava um lugar vazio para se acomodar, o som dos metais se juntando foi ouvido mais uma vez, após as barras se encontrarem percorrendo uma distância razoável sobre a superfície da mesa.
Enquanto Marcos caminhava em direção à única cadeira vazia da sala, ele conseguiu perceber alguns rostos de espanto e vários comentários sussurrantes dos colegas de classe:
- Uau! Como ele é forte. - susurrou Jéssica para Angélica, tentando não fazê-lo ouvir.
- Como ele está diferente - Pedro disse para Gabriel -. Pensei que tinha ficado louco.
Após esta demonstração de força, a participação de Marcos durante o resto da aula foi bem ativa. O professor o requisitava com freqüência para auxiliá-lo com a montagem e execução de quase todos os experimentos. Marcos, por sua vez, representava bem a turma, mostrando-se prestativo e ajudando no que era preciso.
Depois da excitante explicação do último experimento que restava sobre a mesa, o sinal para o intervalo tocou, encerrando a aula e liberando os alunos para o almoço. A próxima aula seria a de química e aconteceria às duas horas da tarde. Os alunos teriam tempo suficiente para almoçar e descansar para a última aula do dia.
Ao tocar o sinal, Lúcio arrumou a sua mochila e levantou-se rapidamente para ir falar com o primo, mas este parecia estar com tamanha pressa que já não estava mais na sala. Marcos parecia estar muito diferente - pensou Lúcio -. Não parecia o mesmo que deixara aquela escola no ano anterior devido problemas de saúde.
Jaqueline e Esteves puxaram Lúcio pelo braço e saíram correndo da sala em direção ao refeitório. Não queriam perder nem um segundo do tempo que tinham para desvendar o mistério do presente que este ganhara do Dr. Edgar.
Depois do farto almoço e de Esteves repetir o prato, os três alunos saíram em direção ao pátio da escola. O lugar era enorme, com um gramado verde, onde os alunos ficavam dispersos entre as árvores e os bancos de madeira espalhados pelo local.
Se jogaram de qualquer modo sobre o gramado, debaixo de uma árvore um pouco afastada da multidão e recolheram os livros de dentro da mochila de Lúcio. Esteves abriu o livro que tinham pego na biblioteca e começou a lê-lo.
O livro utilizava uma linguagem arcaica, mas, com esforço, os três estavam conseguindo entender a maior parte do que liam. "A maior guerra do Lácio" se tratava de uma história de um povoado antigo que vivia na região do Lácio e que era dotado de habilidades especiais. Os habitantes desta região tinham o poder de controlar os elementos da natureza de acordo com a sua vontade e, por isso, muitas vezes eram cultuados como deuses pelos povos das regiões vizinhas. Na verdade, eles tinham um pouco de deuses, pois, com todo poder que tinham, eram responsáveis por equilibrar as energias existentes no mundo, evitando que este entrasse em colapso.
Esteves estava lendo o livro em uma velocidade sobre-humana. Já era complicado entender as expressões utilizadas naquela difícil linguagem, lendo naquela velocidade então, ficava absurdamente impossível compreender. A sorte de Jaqueline foi que, durante uma pausa para respirar, ele olhou rapidamente para ela e viu no rosto dela uma expressão de total desentendimento. Quase três quartos do livro fora lido e nem Jaqueline, que tentava acompanhá-lo na leitura, nem Lúcio, que estava entretido observando detalhes no outro livro, estavam entendendo do que o livro realmente falava. Esteves então tentou explicar:
- Está faltando muitas páginas no livro, mas deu para sacar qual é a história por trás da guerra. Um jovem muito poderoso chamado Damian que estava sendo treinado para ser o novo líder dos Lacius era apaixonado pela Darice, neta do, até então, líder do povoado. A moça estava prometida para se casar com ele, porém, quebrando as regras estabelecidas pelos seus ancestrais, Darice foge do povoado e casa-se com um humano normal. Então, Damian, sedento por justiça, enfrenta Eiros, o líder, e declara guerra aos humanos e a todos os que estiverem no caminho.
Jaqueline não acreditou que naquele curto espaço de tempo Esteves tenha lido aquela história toda, assimilado e feito um resumo da obra para eles. Ela pegou rapidamente o livro da mão dele para ter certeza de que tudo o que ele falara estava realmente ali, mas, no instante em que ela tocou no livro, sentiu um calor muito forte em suas mãos e instintivamente jogou o livro para o alto, agitando as mãos enrubrecidas. O livro saiu das mãos de Jaqueline feito uma bola de fogo e, em poucos segundos, se transformou em cinzas. Os três amigos saltaram para trás assustados ao ver aquela labareda consumindo o livro que estavam lendo.
Todos os alunos presentes no pátio viram o clarão que vinha da árvore em que Lúcio estava com a namorada e o melhor amigo. Lúcio estava com a cabeça doendo e tão preocupado com Jaqueline, tentando protegê-la dos olhares de todos que os cercavam, que nem percebeu que o livro que recebera de presente estava caído atrás dele, próximo às cinzas espalhadas pelo chão e totalmente aberto.
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