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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Distorção - Prólogo

Desde sua origem, o mundo sempre teve seus mistérios. Os cientistas sempre buscaram explicações para tudo, porém, quando acharam que já estavam próximos de Deus, coisas estranhas começaram a acontecer. Pessoas dos mais variados lugares do mundo diziam ter presenciado situações inusitadas que fugiam das explicações científicas.

Isso tudo começou a acontecer dezoito anos atrás, quando um misterioso livro foi encontrado no interior de uma caverna no sul do Brasil. O livro estava escrito em um idioma antigo e boa parte dele estava danificado pelo tempo, porém, não demorou muito e um grupo de quatro estudiosos conseguiu traduzir as escrituras contidas nele. O título foi adaptado para "Distorção" e assim que aberto trazia os seguintes dizeres:

"O normal torna-se anormal e o imperfeito torna-se perfeito."

O livro ficou mais ou menos três meses em estudo. Tinha um conteúdo realmente assustador, destacando-se um trecho que levantou muitas hipóteses na época, quando foi ao ar nos jornais do país e do mundo:

"Às vezes é necessário intervir no mundo deles, afinal nossos inimigos também fazem isso. Torna-se importante nos misturarmos a eles e ocultar nossas identidades, assim também como nossas missões. Até mesmo nós tememos o dia em que teremos que destruir o "fruto do caos". Este caminha sorrateiramente pela terra e talvez tenha assumido a forma de um deles. Nosso maior medo é presenciar o possível fim da mais perfeita obra do Criador."

Dois meses após as notícias sobre o livro começarem a perder a importância, um novo acontecimento choca a humanidade. Os quatro estudiosos são encontrados mortos, cada um em um canto do Brasil. E o mais assustador é o fato de todos eles terem o crânio aberto pela parte de trás e estarem sem cérebro. Após esse macabro acontecimento, nada mais foi divulgado sobre o caso durante os anos que se passaram até atualmente, mas isso não quer dizer que os misteriosos acontecimentos tenham terminado.

Se os seres humanos soubessem no que se envolveram quando descobriram o misterioso livro, talvez nunca desejassem o ter descoberto.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Lacius - Na Fogueira [1:2]

Após desligar, Lúcio corre para o portão, abrindo-o e dá boas vindas ao amigo. Os dois entram correndo e vão em direção ao quarto no andar de cima. Após saudar dona Mônica (mãe de Lúcio) e subir pelas escadas atrás do amigo, Esteves chega à porta do quarto. Eles estavam com pressa, pois mal chegaram no quarto, já estavam saindo com os equipamentos à mão. Desceram correndo as escadas e já foram em direção à porta. Deu tempo somente de ouvir um "Tenham cuidado" vindo da cozinha.

Quinze minutos após saírem da casa de Lúcio, lá estavam eles no Lago Gota Azul. O local estava cheio de gente. Como era de se esperar, várias crianças estavam aproveitando o último dia das férias. Havia pouco mais de duas semanas que o lago era a atração da cidade. Em pleno verão, com um calor insuportável, o lago congelara completamente. Tão estranho era o fenômeno que depois de uma semana, apareceram biólogos, geólogos e outros cientistas e pesquisadores para estudar as causas e conseqüências do acontecimento. Além destes, turistas e repórteres chegavam de todas as partes. A cidadezinha estava ficando famosa. Reportagens sobre o "Lago de Gelo" eram destaques de jornais importantes do país. Sem contar que o comércio local estava crescendo com os novos visitantes. Hotéis lotados, lembranças e mais lembranças que eram compradas para presentes. Desde miniaturas do lago até equipamentos profissionais de patinação eram vendidos ali por perto. Os garotos se divertiam olhando tanta gente estranha naquele lugar. Após calçarem os patins, saíram deslizando entre a multidão de recém-patinadores.

Os dois nunca haviam patinado até aquela semana. Apesar de serem novos, já eram experts, realizando manobras muito difíceis e, algumas vezes, se espatifando no chão. Lúcio achava incrível que, em cima do gelo, a pessoa podia deslizar por longas distâncias apenas com um simples impulso, quando que, no asfalto, isto era impossível. Lembrou-se então do primeiro dia em que fora ao lago e que estava tentando caminhar no gelo, mas não saía do lugar. Quanto mais tentava correr, mais escorregava parado e quando parou levou um baita tombo. Sabia que estudaria a respeito disto neste ano, pois dera uma folheada nos livros e viu que tal fenômeno tinha a ver com o famoso Princípio da Inércia.

Lúcio estava pensativo e não se deu conta que estava deslizando para uma área interditada do lago. Haviam, há uns dois dias, interditado a região central do lago pois, nesta região, a superfície estava bastante escorregadia e com uma camada muito fina. Quando se deu conta, Lúcio tentou parar, mas estava deslizando muito rápido e acabou caindo. Ainda no chão, ele continuou deslizando e, no desespero, fincou os patins no gelo, conseguindo reduzir a velocidade até parar.

Com muito esforço, conseguiu ficar de pé e olhou na direção da margem. Dentre a multidão de pessoas que o olhava Esteves estava acenando a mão e gritando para ele. Lúcio estava bem no centro do lago e começou a tomar impulso para voltar. Neste momento, sentiu o gelo rachar atrás dele. Ele saiu deslizando o mais rápido que pode e o rastro de destruição atrás dele foi aparecendo. O gelo quebrava com tamanha rapidez à mais ínfima pressão que os patins dele causava na superfície. Olhando para trás amedrontado, Lúcio via uma escuridão enorme tomando conta de si. Ele estava muito tonto, mais não podia parar. Olhou novamente para frente e viu as pessoas olhando fixamente para ele. Elas estavam estranhas e havia uma luz que se aproximava dele. A luz estava muito quente. Todos olhavam para ele e o encaravam com despreso. Ele não podia se mexer. Estava preso. Algemado. As labaredas lambiam-lhe o rosto desfigurado. Olhou então para o céu e viu uma luz branca que o atraía. Já não estava em seu corpo. Uma voz o chamava. Uma voz o fazia voltar ao seu lar:

- Lúcio! Lúcio, meu filho. Graças a Deus!

Ele acordara atordoado, ofegante, olhando para os lados. Após alguns segundos, conseguira identificar a mãe, o amigo, a namorada, umas pessoas vestidas de branco, umas camas, equipamentos médicos.

- ... hospital? - questionou ele, com uma voz meio rouca.
- Sim - disse Jaqueline - Você se afogou no lago!
- Afoguei? O que houve? - perguntou ele, ainda atordoado.
- Você estava voltando - começou Esteves - quando o chão começou a quebrar. De repente, tudo começou a derreter. Você foi caindo e o senhor Jonas e o filho pularam no lago para te salvar. Trouxeram você às pressas. Graças a Deus não houve nada mais grave. Ficamos muito assustados. O lago derreteu do nada!
- Não me lembro disto. Só me lembro que o gelo começou a quebrar e os seres... digo... não me lembro mais de nada.

A mãe e a namorada o olharam, mas sabiam do que se tratava. Ele tivera o pesadelo outra vez. E parece que dessa vez ele não estava dormindo. Mônica levantou da cadeira rapidamente e foi falar com o médico. Ela estava muito preocupada. Encontrou o médico e conversaram a respeito dos pesadelos freqüentes de Lúcio. Após algum tempo conversando com ela, o doutor pegou o telefone e pediu para que chamassem Dr. Edgar, o novo psicólogo do hospital.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Lacius - Na Fogueira [1:1]

Lúcio acordou ofegante após um pesadelo que o deixou totalmente suado e atordoado. Desde o seu aniversário de dezesseis anos (duas semanas e meia atrás) que ele vinha tendo este mesmo pesadelo todos os dias. Ele caminhava, em seu sonho, no meio de diversas criaturas que nunca tinha visto. Estas criaturas eram estranhas e faziam coisas mais estranhas ainda, como andar sobre o ar ou até desaparecer de um lugar e aparecer em outro. Lúcio, apesar de assustado, tinha de caminhar por este estranho corredor, pois o chão estava desabando atrás dele, deixando visível um enorme buraco que parecia não ter fim. A cada passo, parecia que a velocidade que o chão ia desmoronando aumentava. Lúcio agora corria em direção a uma luz vermelha que crescia mais e mais quando ele se aproximava. Ele estava agora em uma sala, muito quente, com várias pessoas ao seu redor, apontando para seu rosto, cuspindo nele. Ele estava amarrado e não conseguia se soltar. O calor estava muito forte. Seu corpo queimava. As chamas da fogueira na qual estava amarrado o fazia gritar de dor.

- Lúcio! Meu filho, você está bem? Teve pesadelo outra vez? - perguntou sua mãe abrindo a porta rapidamente e correndo ao seu encontro.
- Sim, mãe. Estou bem. Acho que o filme de ontem não me fez bem. - mentiu, tentando acalmar a mãe.
- Venha. Já é tarde para estar na cama. A partir de amanhã não terá essa mordomia de dormir e acordar tão tarde. Venha tomar o café. Já está na mesa.

As aulas de Lúcio começariam no dia seguinte. Tivera as férias bastante agitadas e agora chegara a hora de voltar à realidade. Iria cursar o primeiro ano do ensino médio e estava bastante curioso com relação às disciplinas que teria de estudar. Sempre fora um excelente aluno, com as melhores notas da turma. Curioso ao ponto de passar horas na biblioteca e nos laboratórios da escola, realizando seus experimentos, Lúcio via nas novas matérias a oportunidade de conseguir esclarecer as dúvidas que os professores insistiam em dizer que seriam respondidas neste ano letivo. 

Assim que acabara de fazer seu desjejum, seu celular toca uma música que compusera na noite do seu aniversário e que colocara no próprio blog para download (algumas pessoas da escola acessavam seu blog e gostavam do conteúdo semanal que Lúcio disponibilizava). Era Jaqueline, sua namorada. A mãe soube na hora, pois ele pegou o celular e saiu correndo para a varanda da casa, de modo a ficar mais à vontade para conversar. Após dois segundos e meio, lá estava ele na varanda com telefone ao ouvido e com uma voz melosamente alterada.

- Oi amor. Dormiu bem?
- Bom dia, mozinho. Dormi sim. Fiquei preocupada porque você não me ligou.
- Acabei perdendo a hora. Acordei há uns quinze minutos. Fui dormir muito tarde, estudando aqueles textos. Não sei se resolverão o meu problema.
- Aconteceu novamente?
- Sim! Já tentei de tudo. Aqueles sites sobre hipnose que você me encaminhou. Você tem certeza que aquilo tem algum embasamento científico?
- Eu te falei que minha tia melhorou do problema dela, não foi? Por falar nisso, eu acho melhor você procurar um médico. Você é muito teimoso. Já cansei de falar isso para você.
- Não se preocupe, amor. Isso vai passar. É só um sonho.
- Um pesadelo, você quis dizer, não é? E o mesmo! Sempre!
- É... Eu sei... - disse Lúcio, olhando para o portão, onde um garoto acabara de aparecer gritando.
- Que gritaria é essa aí? - perguntou Jaqueline, já sabendo de quem se tratava.
- Adivinha! O Esteves. Tinha esquecido que já era tão tarde. Combinei com ele de irmos ao lago. Nos vemos mais tarde?
- Certo. Vou ao salão às três. Acho que só estarei em casa às seis. Te vejo mais tarde! Beijo...
- Beijo, amor! Tchau!


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Lacius - Prólogo

Há muito, muito tempo atrás, em uma época que não se tem conhecimento ao certo quando, o homem fazia parte do universo. Um universo que ele se esquecera que era somente uma peça que o compunha, que o construía. Um complexo bioquímico que se auto-completava e que todas as suas partes possuíam um comum acordo: se ajudarem. O homem - assim como todos os animais, plantas e seres vivos e não-vivos - auxiliava todo o sistema a sobreviver de tal forma que esse imenso organismo parecia ser um só.

Algum tempo, desde então, se passou e o homem se distanciou, cada vez mais, dos outros elementos do sistema, acabando por forçá-los a também se separarem. O universo então reagiu a esta mudança, criando regras que, de um certo modo, acabava unindo todos esses elementos, fosse por meio de ações e reações ou por meio de novos acordos entre as partes. A partir deste momento, protocolos complexos de comunicação e interação foram surgindo e se especificando cada vez mais a certas tarefas. O homem então decidiu ignorar o resto do sistema e agir como se fossem apenas algo que estivesse ali para servi-lo, para que ele pudesse usar e usufruir como bem entendesse. Homens, animais, plantas e demais. Agora, não existia mais universo. O simples fato das diversas coisas existirem era somente porque o homem iria, mais cedo ou mais tarde, fazer uso. O homem começara então a destruir o sistema.

Por sorte, alguns dos humanos se recusavam a fazer parte desta nova "raça suprema". Não queriam se distanciar do resto do imenso organismo que fora o início de tudo. Sabiam que um necessitava do outro e que, mesmo com as novas regras que foram estabelecidas, podiam viver em conjunto e em parceria, na esperança que os dias antigos voltassem. O despedaçado universo também respondeu a isto. Aos que ainda lutavam para manter esta ligação entre todas as partes do sistema foi dado um presente. Algo que os "seres supremos", mais tarde, lutariam para possuir. Os traidores (como eram conhecidos pelos auto-denominados supremos) receberam um dom. Eles conseguiam, de forma clara, entender como as regras funcionavam. Sabiam como melhor se comunicar com o sistema. Enxergavam então o mundo de um modo diferente dos demais.

Muito tempo se passou a partir desta ruptura e, vários fatos ocorreram com "os traidores". Foram se expandindo dentre os territórios, se misturando entre os demais, vivendo entre os "dois mundos".  Poucos eram os povoados que ainda persistiam "100% puro". Muito do que outrora fora aprendido estava agora sendo esquecido. Os que ainda "resistiam" à mudança e demonstravam algo diferentemente especial eram rotulados como bruxos, feiticeiros e outros seres demoníacos. Foram caçados, julgados, mortos. Os que conseguiam escapar se escondiam e permaneciam escondidos por muito tempo. Não havia mais Lacius para contar história. Ou pelo menos, acreditava-se nisto. Foram esquecidos. Assim como todos os ensinamentos que deixaram para a humanidade. Tudo isso acontecera a muito tempo atrás.

Nos dias atuais, o homem tenta explicar como as coisas funcionam. Criam suas próprias teorias. Fazem cálculos. Constroem regras complexas para fazer o mundo ter sentido. Experimentam configurações para reconstruir o próprio universo. O mundo está diferente. As pessoas diferentes. Elas agora têm sua própria rotina. Não possuem mais tempo para pensar nas coisas. Aceitam o que foi definido como verdade. Não olham mais ao redor e assim não reparam no ambiente em que estão. Cegos, surdos e mudos.