Subscribe Twitter

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ás de Ouros - Capítulo 3 [3]

Naldo estava no banco de trás de um táxi com o seu primo Lucas e seu amigo Eduardo. Os três não paravam de cantar músicas que nem eles sabiam que conheciam. Naldo sentia que a Terra parecia girar ao seu redor. Ele estava embriagado. Lucas e Eduardo também.

Os três estavam rindo muito.

– Tem aquela música de Raul também!

Lucas começou a cantar uma música de Raul Seixas, mas ria ao mesmo tempo.

O taxista já estava acostumado a levar passageiros embriagados e a algazarra que eles faziam, mas ele sempre ficava preocupado com a possibilidade de vomitarem em seu carro. Ainda mais que Eduardo parecia não estar tão bem.

– Caramba, eu acho que aquela batata frita não caiu legal – dizia Eduardo alisando a barriga.

– Por favor, se quiser vomitar me avise que eu encosto o carro – o taxista tentava enxergar o rosto de Eduardo pelo retrovisor interno.

Lucas e Naldo gargalhavam.

Naldo era o mais tímido dos três, mas a situação se invertia quando ele bebia de mais. Naldo não costumava se embebedar. Na verdade, essa era apenas a terceira vez em que ele exagerava na bebida, mas foi por uma ocasião especial: comemorar a aprovação de Eduardo no vestibular. Entretanto, Naldo não havia comemorado com a mesma empolgação a sua aprovação no vestibular para o curso de Administração na faculdade pública mais concorrida da cidade. Todos sabiam que Naldo queria prestar vestibular para Engenharia Elétrica, mas seu pai jamais permitiria e praticamente o obrigou a cursar Administração para gerenciar o patrimônio da família. Naldo jamais teve coragem de contrariar o seu pai. Vendo a felicidade de Eduardo, ele pensou se já não era a hora de seguir o seu sonho ao invés de atender as expectativas de seu pai. Era algo que ele pretendia considerar quando estivesse em sã consciência, o que definitivamente não seria nessa noite.

A primeira parada foi na casa de Eduardo, que desceu do carro aos tropeços. Ele se virou para se despedir dos amigos, mas correu na direção de um canteiro de flores na mesma hora e vomitou. Olhou para os dois lados para conferir se alguém havia o visto vomitando nas flores e soltou uma gargalhada.

– Eu quero ver aquelas senhoras cheirando essas flores amanhã!

O taxista ficou grato por ele ter vomitado nas flores e não no carro.

O caminho até a casa de Naldo, onde Lucas também passaria a noite, era mais curto. Os dois cantavam menos agora e ficavam se gabando sobre quem havia ficado com a garota mais bonita do bar. Não chegaram a um consenso.

Ao se aproximarem da entrada do Condomínio Residencial Royal eles ficaram assustados.

Havia carros da imprensa e da polícia na frente do condomínio. Era praticamente impossível passar.

– É Reinaldo Gusmão ali no táxi – gritou uma jornalista.

De repente, um corredor de pessoas se fez e todos os jornalistas viraram para o taxi em que Naldo e Lucas estavam.

Os dois não entenderam o que estava acontecendo, mas começaram a ficar mais sérios agora. Naldo tentava cobrir o rosto, pois os flashes das câmeras pareciam refletores apontados em sua direação

Um policial se aproximou do táxi, acenando com a mão e tentando afastar os jornalistas.

– Leve-os para dentro!

Todos estavam com cara de espanto.

– O que será que está acontecendo aqui? ­– a voz de Lucas quase não saia.

O caminho até a casa de Naldo foi silencioso. Ele notou que algumas moradoras do condomínio se abaixavam para olhar quem estava no táxi e em seguida colocavam a mão na boca em choque.

Mal o taxista parou o táxi e Naldo saltou do carro ao notar as luzes dos carros da polícia parados em frente a sua casa.

Ele correu cambaleando em direção a sua casa, mas foi segurado por uns policiais ainda na entrada.

– Você não pode entrar aí!

Naldo tentava se soltar dos policias.

– Eu preciso ver meus pais! Preciso ver se eles estão bem!

Luís Fernando estava isolado em um canto fumando. Ao ouvir a recente agitação, ele jogou o cigarro no chão e foi ver o que estava acontecendo.

Naldo estava se agitando e gritando para tentar se desvencilhar dos braços dos dois policiais que o seguravam.

– Por favor, garoto, fique calmo – Luís Fernando tentava controlar Naldo, segurando os seus ombros.

­– O que está acontecendo aqui? Aconteceu algo com os meus tios? – disse Lucas, que acabara de chegar.

Os policiais se entreolharam.

Lucas começou a se contorcer e então lançou um jato de vômito que acertou Luís Fernando diretamente e respingou nos policiais. Nesse momento, os policiais se descuidaram e acabaram soltando Naldo, que correu em disparada para a casa. Lucas desmaiou e foi segurado por um dos policiais, o outro correu atrás de Naldo. Luís Fernando não teve reação a não ser olhar para a sua roupa ensopada de vômito.

– Segurem o garoto – gritou o policial para outro que acabara de aparecer na porta da casa.

O policial que estava saindo da casa não teve tempo de reagir. Naldo parecia ter recuperado os sentidos. Parecia estar correndo mais rápido agora. Empurrou o policial e entrou na casa.

Agindo por instinto, ele correu para o escritório e ao entrar ele parou assustado sem acreditar no que estava vendo.

Foi a sua vez de vomitar.

Nenhum comentário: