Naldo não queria acreditar no que estava vendo. Mesmo estando sob o efeito do álcool, ele conseguiu identificar a cabeça de seu pai sobre a mesa do escritório. E ele tinha certeza que o seu pai estava olhando diretamente para ele.
Após vomitar, a única reação foi gritar.
– NÃÃÃÃOOO!!!
Todos os agentes que estavam no escritório olhavam assustados para ele.
Dois policiais entraram correndo e o agarraram. Naldo começou a se agitar para se desvincilhar deles.
Os policiais já o arrastavam para fora do escritório quando Carlos estendeu a mão sinalizando para eles pararem.
– Devagar! Devagar! – dizia Carlos se aproximando dos policiais. – Deixem que eu cuido dele.
Carlos segurou uma mão de Naldo e o abraçou pelos ombros com a outra mão, conduzindo-o para fora do escritório. Naldo estava debrulhando em lágrimas e não tentou se soltar dos braços de agente, mas, com a força de Carlos, ele não conseguiria nem se tentasse.
Os dois policiais seguiram Carlos enquanto ele conduzia Naldo até um sofá na sala, ainda chorando muito.
– Você – Carlos apontava para o policial mais jovem. – Traga um copo d’água.
O policial partiu em disparada na direção da cozinha.
Carlos agora estava abaixado de frente para Naldo e o segurando pelos ombros.
– Primeiro – começou Carlos, tentando falar da maneira mais calma possível. – Qual o seu nome, meu jovem?
Naldo soluçava. As letras quase não saiam de sua boca.
– Rei-ic-Naldo.
– Ok. E Otávio Gusmão era o seu pai, certo?
Naldo confirmou com a cabeça.
– Minha equipe já ligou para o seu tio Olavo e ele estará aqui a qualquer minuto. Enquanto isso, eu vou ficar aqui com você, ok?
O jovem policial chegou com o copo de água. Carlos pegou o copo e entregou a Naldo.
– Podem deixar comigo. Vejam se precisam de vocês lá na frente – disse Carlos aos policiais.
Os policias se entreolharam. Era claro que eles queriam ficar e ajudar no que fosse possível.
Carlos sinalizou cabeça para que saíssem. E eles saíram ainda relutantes.
Com a sala vazia, Carlos voltou a sua atenção a Naldo. Só agora ele sentiu o cheiro de álcool vindo do garoto. Carlos identificou a embriaguez de Naldo como uma oportunidade de extrair informações mais sinceras.
– Reinaldo, como você, infelizmente, pôde ver, seu pai foi assassinado. Nós ainda não sabemos quem fez isso ou o porquê, mas estamos em busca de pistas e trabalhando em cima disso. Você tem alguma informação que possa nos ajudar?
Os únicos pensamentos na cabeça de Naldo eram a imagem da cabeça decepada de seu pai na mesa e o encarando. Ele nem processou as palavras de Carlos.
– Reinaldo, por favor, tente me ajudar!
Naldo não fazia outra coisa além de chorar.
– Você sabia se seu pai estava envolvido em alguma negociação grande nos últimos dias, se tinha inimigos ou se sofria ameaças?
– Meu pai era a-ic melhor pes-ic-soa do mundo! – respondeu Naldo quase gritando.
– E eu não duvido de você – apressou-se Carlos. – Mas mesmo as melhores pessoas acabam despertando a inveja e o ódio nos demais.
Carlos agora estava abaixado de frente para Naldo e falando bem próximo ao rosto dele, para fixar a sua atenção.
– Você ouvia algum movimento estranho ao redor da casa nos últimos dias, como se alguém os espionassem?
Naldo negava com a cabeça.
– Seu pai vinha sofrendo ameaças ultimamente? Ele já tentou esconder algo de você quando você entrava no escritório?
– Ele não me dei-ic-xava entrar no escritório.
– Por que?
– Porque é onde ele trabalhava.
Carlos sabia que não conseguiria ficar com Naldo sozinho por mais tempo. Respirou fundo e tentou ser mais direto.
– Você já ouviu falar no Ás de Ouros?
Naldo estranhou a pergunta. Ele ficou parado encarando Carlos, sem responder.
– Seu pai alguma vez falou com você sobre o Ás de Ouros? – insistiu Carlos, apertando os ombros de Naldo.
– Não sei do que você está falando...
O garoto deu um gole grande na água. Carlos estava ficando impaciente. Ele sabia que não tinha muito mais tempo.
– Por favor, garoto, eu preciso dessa informação!
– Naldinho, querido!
Uma mulher entrou na sala e correu em direção a Naldo. Carlos apenas levantou e deu um passo para trás.
O homem que a acompanhava era praticamente uma cópia mais nova de Otávio. Carlos logo deduziu que esse seria Olavo, irmão da vítima.
– Senhor Olavo Gusmão? Eu sou o Agente Carlos Almeida – Carlos estendeu a mão para Olavo. – Sou o chefe dessa investigação. Sinto pela sua perda. Eu e minha equipe faremos o possível para identificar o assassino.
– Muito obrigado – agradeceu Carlos e em seguida se dirigiu a mulher. – Helen, querida, vá pegar algumas roupas limpas para Naldinho.
Helen parecia não querer largar o garoto, que agora chorava em seus ombros. Ela foi se afastando dele bem devagar.
– Eu recomendo que você não veja a cena do crime. Chamarei alguém de minha equipe para ficar com vocês e lhe passarem algumas informações.
Olavo acenou com a cabeça e sentou-se ao lado de Naldo.
Carlos ficou parado olhando para eles por um instante e voltou para o escritório a passos lentos.
...
– Droga de vômito fedorento!
Luís Fernando estava debruçado em uma pia no kioski no fundo da casa. Seu celular apitou em seu bolso indicando que uma mensagem havia chegado. Ele ficou agitado procurando algum lugar para secar as mãos. Não achou e acabou esfregando as mãos em sua calça jeans.
Ele pegou o celular e leu a mensagem:
O jogo já começou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário