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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Lacius - Na Fogueira [1:3]

Não demorou muito, já estavam os três na sala, discutindo sobre os problemas de Lúcio com o sono e sobre como isto estava interferindo nas duas últimas semanas do garoto.

Dr. Edgar ouviu tudo o que Mônica lhe contara com muita atenção. A expressão no rosto do psicólogo era difícil de se descrever. Apesar de estar atento ao que Mônica dizia, ele parecia estar com os pensamentos muito distantes. Ao findar a conversa com a mãe de Lúcio e se informar com o médico do menino a respeito do estado de saúde do mesmo, solicitou que o garoto fosse à sua sala antes de ir para casa.

Após o almoço tardio de Lúcio, Mônica o levou até a sala do psicólogo e ficou esperando do lado de fora, sentada num banco, ao lado de Jaqueline. Esta correra para o hospital assim que soube do acidente com o namorado. A ligação de Esteves interrompera seu almoço, mas, sentada naquele banco, ela não parecia estar com fome alguma. Tanta era a sua preocupação que esquecera-se totalmente que, há meia hora, ela tinha de estar no salão.

Dentro da sala, Lúcio estava sentado num sofá, de frente para a poltrona de onde Dr. Edgar fazia o seu interrogatório.

- Conte-me mais a respeito do teu sonho, Lúcio - pediu o doutor -. Como ele se inicia? Você se lembra onde está no momento inicial do sonho?
- Em uma sala. Não, é uma floresta - Lúcio forçava a mente, tentando lembrar do momento inicial do sonho -, eu acho - concluiu ele.
- E o que tem de especial nesta floresta? O que tem de especial nestas criaturas que você mencionou? - Lúcio já tinha contado a história ao doutor umas duas vezes, mas este ainda achava que haviam coisas que poderiam ser mais detalhadas.
- Eram animais estranhos. Nunca vi animais daqueles tipos. Eles podiam fazer coisas anormais, como sumir de um lugar e aparecer em outro.
- Anormais? - interrompeu, o doutor - Por que diz isto?
- Como algum ser humano poderia fazer assim? Nunca vi ninguém fazendo isto! - exclamou Lúcio, não entendendo o porquê da pergunta do doutor.
- Você diz "ser humano"? - Dr. Edgar o perguntou com um olhar profundo - Como são os animais do seu sonho?

Ao ouvir essa pergunta, Lúcio sente-se meio tonto e vê um flashback em sua mente.

A floresta da qual ele havia falado estava diferente de como recordava. As árvores eram como prédios. O chão parecia estar asfaltado. Era noite. Ele via o vulto dos animais passando. Um deles surgiu em sua frente e o olhou diretemante nos olhos. Ele tinha o tamanho de um rapaz. Tinha um tronco alto, braços fortes, cabelos castanhos. Era um...

Lúcio acordou do seu devaneio, se deparando com a profundidade dos olhos de Dr. Edgar. Ele se lembrara de como eram os seres que faziam parte do seu sonho. Cada detalhe daquele lugar agora estava nítido em sua memória.

- Eram homens - disse ele, finalmente -. Homens, mulheres e crianças.
- Interessante - resmungou o psicólogo -. E o que eles estavam fazendo na floresta?
- Não havia mais floresta. Eles estavam procurando algo. Ou alguém - Lúcio estava pensativo, tentando se lembrar o que realmente ele estava fazendo naquele lugar.
- Eles encontraram o que estavam procurando? - Dr. Edgar chegou um pouco mais para frente, para encarar o garoto - Encontraram, Lúcio? - repetiu, aumentando a interrogatividade da frase.

Mal o doutor terminou de falar, Lúcio ouviu dentro de sua cabeça uma voz que respondia àquela pergunta. O rapaz que havia surgido em sua frente o trouxera de volta às lembranças. Apesar da escuridão, os olhos claros do rapaz estava bem visível à sua frente. Mas, apesar da calma que tinha no olhar, a voz que saía de sua boca era dolorosa.

- Finalmente o encontramos. Nós precisamos de sua ajuda, irmão.

Mais e mais pessoas surgiam em volta de Lúcio. Algumas surgiam do céu. Outras, do chão. Haviam ainda outros que vinham correndo, tão velozes quanto um raio. Em poucos segundos, uma multidão o havia cercado. Todos com olhares de súplica. E, apesar de não estarem mechendo as suas bocas, Lúcio ouvia tudo o que eles queriam dizer. Ele agora sabia que era o único que podia ajudá-los.

Voltando, mais uma vez, à sala do psicólogo, Lúcio sentiu a cabeça doer. Não sabia como estava se lembrando de tudo aquilo. Parecia que seus pesadelos nunca tinham sido tão reais. Havia descoberto as respostas à pergunta de Dr. Edgar. Ele se sentia estranho. Olhava nos olhos do psicólogo e sentia que podia fazer o que quisesse. 

Após alguns segundos refletindo sobre o que se lembrara, finalmente respondeu ao doutor:

- Sim. Acharam. Eles finalmente me acharam!

Um comentário:

Anônimo disse...

Está um suspense muito bom essa história.

Aguardando pra ver o que vai acontecer após as revelações deste capítulo..

Abraço!