Aquele objeto que agora estava nas mãos de Lúcio era o livro mais estranho que ele já havia visto. Era todo preto, feito de um material supostamente metálico, estranhamente leve e denso. No que parecia ser a capa, haviam umas inscrições estranhas que ele não conseguia identificar em que idioma poderia estar. E havia algo mais estranho ainda. Não importava a força que Lúcio colocasse, o livro não abria.
Passados uns oito ou nove minutos das tentativas frustradas de Lúcio para descobrir o conteúdo do livro, Esteves chega correndo à porta do quarto.
- Cara, vim o mais rápido que pude... - começa Esteves, quase sem ar - Estou louco para saber da conversa que você teve com o doutor lá... Você falou que precisava conversar... Ah, cara, como é que está? Melhor?
Esteves era a pessoa mais ansiosa que Lúcio já conhecera na vida. Bastava ficar nervoso que falava sem parar. Lúcio costumava ligar para ele dizendo ter algo importante para contar somente para que ele fosse rapidamente se encontrar com ele.
- Esteves... calma! Entra, senta e respira um pouco... - fala Lúcio, rapidamente, antes que o amigo tivesse um ataque de tanto falar.
- Estou bem - continua Lúcio - consegui lembrar de detalhes do meu sonho que nem sabia que existiam.
- Detalhes? Que detalhes? - Esteves interrompe o amigo que, já acostumado, continua a falar.
- Os animais estranhos que eu havia te falado que estavam no meu sonho... na verdade, não eram animais, eram seres humanos. Eles estavam me procurando. Eu estava fugindo com eles. Mas outros apareceram e começaram a nos perseguir. Eu tinha de fazer algo mas não sabia o que fazer. Todos ficavam olhando estranhamente para mim. Esperavam que eu fizesse algo...
- Cara, que estranho - Interrompe o amigo mais uma vez.
- Estranho? - fala Lúcio com um olhar em direção ao livro em cima da cama - Você acha isso estranho porque ainda não viu o presente que ganhei.
Lúcio pega o livro e entrega-o a Esteves que, ao tocar no livro, dá um pulo da cadeira onde está sentado, deixando o livro cair no chão.
- Ai! - grita Esteves, balançando a mão direita num gesto de dor.
- O que foi? - pergunta Lúcio espantado - O que houve?
- Levei um baita de um choque, cara. Isso não teve graça! Este era o presente estranho que você havia me falado? Se eu soubesse, não tinha vindo tão rápido.
- Você levou um choque? Como? Eu estava segurando o livro o tempo todo e não levei choque algum. Eu ia te mostrar o quão estranho é este livro que o doutor me deu para ler.
- Livro? - questiona Esteves, olhando com uma cara de desconfiança para o objeto caído perto da porta do quarto.
Vagarosamente, ele então se aproxima do livro que permanece fechado, do mesmo jeito que Lúcio havia o entregado. Abaixando-se lentamente, ele encosta rapidamente o dedo na superfície do livro, afastando-se tão rápido quanto encostara. Com o medo que estava sentindo, não se arriscaria segurar o livro e tomar outro choque daqueles.
Após umas três encostadas rápidas no livro, ele finalmente segura-o e levanta, deixando-o visível à luz. Esteves senta novamente na cadeira e fica analisando o livro, com Lúcio contando de quantas maneiras ele havia tentado abrí-lo e não conseguiu. A cada método que Lúcio falava, Estaves tentava fazer o mesmo, só para ter certeza que não funcionaria. A mão de esteves já estava roxa de tanto colocar força nas saliências da capa para tentar abrí-lo.
Já estava ficando muito tarde e Mônica havia informado pela segunda vez sobre o horário tardio e sobre as aulas matinais do dia seguinte. Esteves se despediu de Lúcio que estava cansado demais para acompanhá-lo até a porta e se despediu do amigo ali mesmo, deitado. O amigo, entendendo o cansaço de Lúcio, foi saindo do quarto, porém percebeu algo que o deixou intrigado. Ele estava vendo o reflexo do livro no espelho que ficava na parede do quarto. Ele não havia, até então, reparado no símbolo que estava na capa do livro. Virou-se rapidamente para ter certeza do que vira. Então, sorridente, fala para Lúcio que não estava entendendo a reação do amigo:
- Cara, sabe o símbolo que está aí na capa?
- Sim. É alguma língua estranha. - responde Lúcio intrigado - Você conhece?
- Já ví este símbolo antes. Você não adivinha onde.
- Onde? Fala logo.
- Na biblioteca da escola.
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