Já havia se passado cerca de trinta minutos desde que Lúcio entrara na sala do doutor. Após o último flashback, Lúcio parecia falar com mais convicção sobre tudo que estava lhe atormentando nas últimas duas semanas. Havia contado a Dr. Edgar mais detalhes do sonho que insistia em se repetir todos os dias desde que completara dezessete anos. Falou da multidão que estava perseguindo ele e todos os que o acompanhavam. Contou também da destruição que se espalhava por onde passavam. O mundo parecia estar um caos e todos ao redor dele, esperando que fizesse algo.
Dr. Edgar ouviu tudo o que o jovem Lúcio falou e ficou, durante algum tempo, pensando calado. Sua face demonstrava uma mistura de alegria, preocupação e dúvida. Em sua mente, várias perguntas estavam tentando ser respondidas. Após refletir bastante, levanta-se, vai em direção à sua maleta, em cima da estante da sala e, de dentro dela, tira um embrulho de presente. Ainda de costas para o garoto, ele diz:
- Lúcio, é fato que algo importante está acontecendo contigo. As pessoas do seu sonho te pedem ajuda porque você é uma pessoa especial. Você tenta fazer o bem para ajudar as pessoas. Foge da destruição. E está preocupado com suas responsabilidades. Isto está em seu subconsciente e está afetando o seu sono.
Voltando em direção à poltrona, ele senta-se com o presente em mãos e, olhando nos olhos de Lúcio, o entrega o pacote, dizendo:
- Aparentemente, está com muita coisa na cabeça. Está com mais responsabilidades e preocupado com isso. Aconselho que ocupe sua mente com outras coisas. Se você tirar as preocupações da cabeça, os pesadelos sumirão. Aqui está algo que talvez possa te ajudar a relaxar.
Lúcio pegou o embrulho e ambos se levantaram. Dr. Edgar o levou até a porta. Haviam passado cerca de quarenta minutos naquela sala. Mônica ainda estava sentada no banco. Jaqueline havia ido para casa. A mãe a ligara dizendo que precisava da ajuda dela em casa.
Mônica levou o filho para casa. Chegaram em casa dentro de uns vinte minutos.
Ao chegar em casa, Lúcio pegou o telefone e subiu correndo as escadas em direção ao quarto. Jogou o embrulho do presente em cima da escrivaninha e se jogou em cima da cama. Estava louco para falar com Jaqueline. Porém, na hora em que ele vai digitar o primeiro número, o telefone toca e ele imediatamente atende.
- Alô!? - Fala Lúcio, meio irritado por ter que esperar para falar com a namorada.
- Oi, cara. Liguei para o hospital, me informaram que você já tinha ido para casa! - Respondeu Esteves - Como você está?
- Tô bem. Tive uma conversa com um psicólogo. Foi uma coisa muito estranha. A gente precisa conversar. Pode vir aqui?
- Claro. Em vinte minutos eu apareço.
- Até mais.
Assim que acabou de se despedir de Esteves, Lúcio já estava com os dedos engatilhados nas teclas do telefone. Não demorou muito, uma voz doce e suave falou do outro lado da linha:
- Amor!!! - Jaqueline atende o telefone numa euforia, deixando cair o copo que estava lavando - Como você está?
- Oi amor. Estou bem. Com saudades de você.
- Eu também, amor. Precisei vir para casa. Teremos visitas, hoje à noite. Estou ajudando a arrumar a casa.
- Que chato... queria te ver...
- É amor, infelizmente, hoje não vai dar. Tenho de ficar aqui para receber o pessoal.
- Tá certo, amor - diz Esteves, com uma voz de decepção.
- E aí, como foi lá com o psicólogo? O que ele falou?
- Você não vai acreditar. Foi muito estranho o que aconteceu lá. Preciso falar contigo pessoalmente. Amanhã, antes da aula, eu te conto. Certo?
- Certo, amor. Você passa aqui para irmos juntos?
- Claro, amor!
- Tchau, então, gatinho. Tenho de terminar isso aqui. Beijos!
- Beijão, amor. Até amanhã!
E, desligando o telefone, volta-se para o embrulho e pega-o. Após se jogar novamente na cama, abre rapidamente a embalagem e, de dentro, tira um objeto com um aspecto muito antigo. Com um olhar curioso, Lúcio vai virando o objeto retangular, analisando o estranho formato. Após algum tempo olhando, ele finalmente repara nos detalhes das bordas do estranho objeto.
- Um Livro!
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