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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Lacius - Na Fogueira [1:2]

Após desligar, Lúcio corre para o portão, abrindo-o e dá boas vindas ao amigo. Os dois entram correndo e vão em direção ao quarto no andar de cima. Após saudar dona Mônica (mãe de Lúcio) e subir pelas escadas atrás do amigo, Esteves chega à porta do quarto. Eles estavam com pressa, pois mal chegaram no quarto, já estavam saindo com os equipamentos à mão. Desceram correndo as escadas e já foram em direção à porta. Deu tempo somente de ouvir um "Tenham cuidado" vindo da cozinha.

Quinze minutos após saírem da casa de Lúcio, lá estavam eles no Lago Gota Azul. O local estava cheio de gente. Como era de se esperar, várias crianças estavam aproveitando o último dia das férias. Havia pouco mais de duas semanas que o lago era a atração da cidade. Em pleno verão, com um calor insuportável, o lago congelara completamente. Tão estranho era o fenômeno que depois de uma semana, apareceram biólogos, geólogos e outros cientistas e pesquisadores para estudar as causas e conseqüências do acontecimento. Além destes, turistas e repórteres chegavam de todas as partes. A cidadezinha estava ficando famosa. Reportagens sobre o "Lago de Gelo" eram destaques de jornais importantes do país. Sem contar que o comércio local estava crescendo com os novos visitantes. Hotéis lotados, lembranças e mais lembranças que eram compradas para presentes. Desde miniaturas do lago até equipamentos profissionais de patinação eram vendidos ali por perto. Os garotos se divertiam olhando tanta gente estranha naquele lugar. Após calçarem os patins, saíram deslizando entre a multidão de recém-patinadores.

Os dois nunca haviam patinado até aquela semana. Apesar de serem novos, já eram experts, realizando manobras muito difíceis e, algumas vezes, se espatifando no chão. Lúcio achava incrível que, em cima do gelo, a pessoa podia deslizar por longas distâncias apenas com um simples impulso, quando que, no asfalto, isto era impossível. Lembrou-se então do primeiro dia em que fora ao lago e que estava tentando caminhar no gelo, mas não saía do lugar. Quanto mais tentava correr, mais escorregava parado e quando parou levou um baita tombo. Sabia que estudaria a respeito disto neste ano, pois dera uma folheada nos livros e viu que tal fenômeno tinha a ver com o famoso Princípio da Inércia.

Lúcio estava pensativo e não se deu conta que estava deslizando para uma área interditada do lago. Haviam, há uns dois dias, interditado a região central do lago pois, nesta região, a superfície estava bastante escorregadia e com uma camada muito fina. Quando se deu conta, Lúcio tentou parar, mas estava deslizando muito rápido e acabou caindo. Ainda no chão, ele continuou deslizando e, no desespero, fincou os patins no gelo, conseguindo reduzir a velocidade até parar.

Com muito esforço, conseguiu ficar de pé e olhou na direção da margem. Dentre a multidão de pessoas que o olhava Esteves estava acenando a mão e gritando para ele. Lúcio estava bem no centro do lago e começou a tomar impulso para voltar. Neste momento, sentiu o gelo rachar atrás dele. Ele saiu deslizando o mais rápido que pode e o rastro de destruição atrás dele foi aparecendo. O gelo quebrava com tamanha rapidez à mais ínfima pressão que os patins dele causava na superfície. Olhando para trás amedrontado, Lúcio via uma escuridão enorme tomando conta de si. Ele estava muito tonto, mais não podia parar. Olhou novamente para frente e viu as pessoas olhando fixamente para ele. Elas estavam estranhas e havia uma luz que se aproximava dele. A luz estava muito quente. Todos olhavam para ele e o encaravam com despreso. Ele não podia se mexer. Estava preso. Algemado. As labaredas lambiam-lhe o rosto desfigurado. Olhou então para o céu e viu uma luz branca que o atraía. Já não estava em seu corpo. Uma voz o chamava. Uma voz o fazia voltar ao seu lar:

- Lúcio! Lúcio, meu filho. Graças a Deus!

Ele acordara atordoado, ofegante, olhando para os lados. Após alguns segundos, conseguira identificar a mãe, o amigo, a namorada, umas pessoas vestidas de branco, umas camas, equipamentos médicos.

- ... hospital? - questionou ele, com uma voz meio rouca.
- Sim - disse Jaqueline - Você se afogou no lago!
- Afoguei? O que houve? - perguntou ele, ainda atordoado.
- Você estava voltando - começou Esteves - quando o chão começou a quebrar. De repente, tudo começou a derreter. Você foi caindo e o senhor Jonas e o filho pularam no lago para te salvar. Trouxeram você às pressas. Graças a Deus não houve nada mais grave. Ficamos muito assustados. O lago derreteu do nada!
- Não me lembro disto. Só me lembro que o gelo começou a quebrar e os seres... digo... não me lembro mais de nada.

A mãe e a namorada o olharam, mas sabiam do que se tratava. Ele tivera o pesadelo outra vez. E parece que dessa vez ele não estava dormindo. Mônica levantou da cadeira rapidamente e foi falar com o médico. Ela estava muito preocupada. Encontrou o médico e conversaram a respeito dos pesadelos freqüentes de Lúcio. Após algum tempo conversando com ela, o doutor pegou o telefone e pediu para que chamassem Dr. Edgar, o novo psicólogo do hospital.

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