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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Lacius - Prólogo

Há muito, muito tempo atrás, em uma época que não se tem conhecimento ao certo quando, o homem fazia parte do universo. Um universo que ele se esquecera que era somente uma peça que o compunha, que o construía. Um complexo bioquímico que se auto-completava e que todas as suas partes possuíam um comum acordo: se ajudarem. O homem - assim como todos os animais, plantas e seres vivos e não-vivos - auxiliava todo o sistema a sobreviver de tal forma que esse imenso organismo parecia ser um só.

Algum tempo, desde então, se passou e o homem se distanciou, cada vez mais, dos outros elementos do sistema, acabando por forçá-los a também se separarem. O universo então reagiu a esta mudança, criando regras que, de um certo modo, acabava unindo todos esses elementos, fosse por meio de ações e reações ou por meio de novos acordos entre as partes. A partir deste momento, protocolos complexos de comunicação e interação foram surgindo e se especificando cada vez mais a certas tarefas. O homem então decidiu ignorar o resto do sistema e agir como se fossem apenas algo que estivesse ali para servi-lo, para que ele pudesse usar e usufruir como bem entendesse. Homens, animais, plantas e demais. Agora, não existia mais universo. O simples fato das diversas coisas existirem era somente porque o homem iria, mais cedo ou mais tarde, fazer uso. O homem começara então a destruir o sistema.

Por sorte, alguns dos humanos se recusavam a fazer parte desta nova "raça suprema". Não queriam se distanciar do resto do imenso organismo que fora o início de tudo. Sabiam que um necessitava do outro e que, mesmo com as novas regras que foram estabelecidas, podiam viver em conjunto e em parceria, na esperança que os dias antigos voltassem. O despedaçado universo também respondeu a isto. Aos que ainda lutavam para manter esta ligação entre todas as partes do sistema foi dado um presente. Algo que os "seres supremos", mais tarde, lutariam para possuir. Os traidores (como eram conhecidos pelos auto-denominados supremos) receberam um dom. Eles conseguiam, de forma clara, entender como as regras funcionavam. Sabiam como melhor se comunicar com o sistema. Enxergavam então o mundo de um modo diferente dos demais.

Muito tempo se passou a partir desta ruptura e, vários fatos ocorreram com "os traidores". Foram se expandindo dentre os territórios, se misturando entre os demais, vivendo entre os "dois mundos".  Poucos eram os povoados que ainda persistiam "100% puro". Muito do que outrora fora aprendido estava agora sendo esquecido. Os que ainda "resistiam" à mudança e demonstravam algo diferentemente especial eram rotulados como bruxos, feiticeiros e outros seres demoníacos. Foram caçados, julgados, mortos. Os que conseguiam escapar se escondiam e permaneciam escondidos por muito tempo. Não havia mais Lacius para contar história. Ou pelo menos, acreditava-se nisto. Foram esquecidos. Assim como todos os ensinamentos que deixaram para a humanidade. Tudo isso acontecera a muito tempo atrás.

Nos dias atuais, o homem tenta explicar como as coisas funcionam. Criam suas próprias teorias. Fazem cálculos. Constroem regras complexas para fazer o mundo ter sentido. Experimentam configurações para reconstruir o próprio universo. O mundo está diferente. As pessoas diferentes. Elas agora têm sua própria rotina. Não possuem mais tempo para pensar nas coisas. Aceitam o que foi definido como verdade. Não olham mais ao redor e assim não reparam no ambiente em que estão. Cegos, surdos e mudos.

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